Como foi dito nos posts anteriores referentes ao Pai Nosso (veja os links ao fim deste), o Espírito Santo nos faz amar, desejar e pedir retamente o que nos convém amar, desejar e pedir. Este Espírito produz em nós, primeiro, o temor que nos leva a procurar a santificação do nome de Deus, para, em seguida, nos dar o dom da piedade. A piedade é, propriamente, uma afeição terna e devotada por um pai e também por um homem caído na miséria.
Como Deus é nosso Pai, devemos não somente venerá-lo e temê-lo, mas também alimentarmos uma terna e delicada afeição por Ele. É esta afeição que nos faz pedir a vinda do reino de Deus. São Paulo declara em Tito, 2, 11-13: A graça de Deus apareceu a todos os homens, ensinando-nos que vivamos neste mundo sóbria, justa e piamente, aguardando a esperança bem-aventurada e a vinda gloriosa de nosso grande Deus.
Mas podemos perguntar: Se o reino de Deus sempre existiu, porque pedimos a sua vinda?
Devemos responder a esta pergunta de três maneiras:
Primeiro: o reino de Deus, em sua forma acabada, supõe a perfeita submissão de todas as coisas a Deus. Um rei não será rei, efetivamente, antes de que todos os seus súditos lhe obedeçam.
Sem dúvida, Deus pelo que é e por sua natureza, é o Senhor do universo; e o Cristo, sendo Deus e sendo homem, tem, como Deus, o senhorio sobre todas as coisas. Diz Daniel (7, 14): No mais antigo dos dias foi lhe dado o poder, a honra e a realeza. É preciso que tudo lhe seja submetido. Mas isto ainda não é assim e se realizará no fim do mundo. Está escrito (1 Cor 15, 25): É necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés. Eis porque pedimos: venha a nós o vosso reino.
Assim fazendo, pedimos três coisas, a saber:
— que os justos se convertam;
— que os pecadores sejam punidos;
— que a morte seja destruída.
Os homens são submetidos ao Cristo de duas maneiras: ou voluntariamente ou contra a vontade. A vontade de Deus, com efeito, possui tal eficácia, que não pode deixar de se realizar totalmente. E já que Deus quer que todas as coisas sejam submissas ao Cristo, é preciso necessariamente ou que o homem cumpra a vontade de Deus, submetendo-se a seus mandamentos — o que fazem os justos — ou que Deus realize sua vontade naqueles que lhe desobedecem, isto é, nos pecadores e nos seus inimigos, punindo-os. O que acontecerá, no fim do mundo, quando Ele colocará seus inimigos debaixo de seus pés (cf., Sl 110, 1). Por isso é dado aos santos pedirem a Deus a vinda de seu reino, com a total submissão de todos à sua realeza. Mas esse pedido faz tremer os pecadores, pois assim terão de se submeter aos suplícios requeridos pela vontade divina. Infelizes aqueles (pecadores) que desejam o dia do Senhor (Am 5, 18).
A vinda do reino de Deus, no fim dos tempos, será também a destruição da morte. O Cristo é a vida; ora, a morte — que é contrária à vida — não pode existir em seu reino, segundo a palavra (1 Cor 15,26): O último inimigo a ser destruído será a morte, o que quer dizer que na ressurreição, segundo São Paulo (Fp 3, 21), o Salvador transformará nosso corpo de miséria, e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso.
Segundo: o reino dos céus designa a glória do paraíso. Não há nisto nada de espantoso, pois o reino quer dizer, simplesmente, governo. Um governo atinge seu mais alto grau de excelência, quando nada se opõe à vontade de quem governa.
Ora, a vontade de Deus é a salvação dos homens, pois Deus quer que todos os homens se salvem (cf. 1 Tm 2, 4). Esta vontade divina se realizara principalmente no paraíso, onde nada é contrário à salvação dos homens, pois o Senhor diz (Mt 13, 41): Os anjos lançarão fora de seu reino todos os escândalos. Neste mundo, ao contrário, abundam os obstáculos, para a salvação dos homens.
Quando, pois, pedimos a Deus: «venha a nós o vosso reino», rezamos para que, triunfando sobre esses obstáculos, sejamos participantes de seu reino e da glória do paraíso.
Três motivos tornam este reino extremamente desejável.
Primeiro, pela soberana justiça deste reino. Falando de seus habitantes, o Senhor diz a Isaías (60, 21) que todos são justos. Aqui, os maus estão misturados com os bons, mas lá não haverá nem maus nem pecadores.
Segundo, pela Continuar lendo →